segunda-feira, 13 de abril de 2009

Sporting: Debate Soares Franco/Dias da Cunha marcado por acusações mútuas

O actual e ex-presidente do Sporting Clube de Portugal, Filipe Soares Franco e Dias da Cunha, estiveram hoje num debate realizado no canal televisivo SIC Notícias.

O encontro entre os dois começou logo em tom acusatório, pois a primeira coisa que Dias da Cunha disse foi "finalmente, há coragem. Há 3 anos e meio que pedia ao Sr. Soares Franco para vir debater a vida do Sporting num canal televisivo. Mas ele recusou sempre, se calhar, por medo, pois não vejo outra razão".

Logo de seguida, Soares Franco respondeu: "Durante 3 anos e meio evitei este debate em público, porque achei que existiam outras formas de o fazer, cara a cara, no Conselho Leonino, nas Assembleias Gerais regulares e no Congresso que recentemente teve lugar. Não foi assim, paciência. Disse que eu tinha medo do debate, pronto! Aqui estou!".

Dias da Cunha aproveitou as declarações de Soares Franco para atacar, mais uma vez, o actual presidente leonino: "Eu também me oponho a este tipo de debate. Mas, gostava de esclarecer um pequeno ponto. Há uns tempos atrás, houve uma assembleia geral, onde o Sr. Soares Franco teve uma hora e qualquer coisa para dizer o que muito bem entendia, e a mim, deram-me 3 minutos. Fiquei a perceber o que é que me esperavam as assembleias gerais do Sporting. Em relação ao Conselho Leonino, onde pela primeira vez ouvi falar no famoso buraco das contas, ouvi o Sr. a dizer de sua justiça, enquanto eu, assim que subi ao palanque comecei a ouvi vozes e berros para eu não falar; logo vi que não estava ali a fazer nada. Ainda escrevi uma carta para explicar o sucedido, mas o Sr. não teve pejo nenhum em me responder. A única carta que recebi do Sporting, data de Maio de 2005, a dizer que o Sr. Soares Franco não queria ser presidente do Sporting. Não queria, e foi para lá? Para quê?, pergunto eu; Vai-se candidatar a um posto que não está interessado? Quem se candidata a coisas que para si não têm interesse, é porque não tem mais nenhum sítio para onde ir, ou então, e porque espera retirar dividendos desse posto. E estou certo e seguro que o Sr. Soares Franco tem muitos sítios a onde ir".

A partir daqui, ambos começaram a ficar muito nervosos, berrando ao mesmo tempo, levando o moderador a fazer um pequeno intervalo para serenar os ânimos.

No regresso, a palavra foi dada a Soares Franco que acusou Dias da Cunha de ter sido "o único presidente de um clube, que se demite ao mesmo tempo que despede o treinador".

Na resposta, o ex-presidente afirmou que "a vida do José [Peseiro] no Sporting foi muito má. E eu saí na mesma altura, porque havia pessoas que me queriam atingir. Eu até disse ao José para ele ficar, porque o alvo era eu. Mas ele disse que estava cansado, e que queria sair do futebol por uns tempos. A campanha estava montada contra mim, eu sai, ele saiu porque ele quis, não foi despedido, como muitos dizem por aí".

Sobre as finanças do clube e o actual "buraco financeiro", os dois lados do debate não chegaram a um consenso, acusando-se mutuamente.

O primeiro a falar foi Soares Franco, revelando que "no dia 24 de Fevereiro de 2006, Rui Meireles escreveu aos bancos que trabalham com o Sporting, a dizer que o défice era de 16,7 milhões de euros. A 24 de Outubro, Rui Meireles diz que se encontram vendidos tal, tal e tal. Em 2006, quem era presidente do Sporting era você, não era eu. Quem vendeu o património não fui eu, foi você. No artigo 30, aliena C, comprometeu-se a alienar até 31 de Junho de 2006 o edifício-sede. Ele ainda pertence ao Sporting, graças a quem? A si? Não me parece".

António Dias da Cunha também relata uma carta de Rui Meireles para fazer a sua defesa: "O Rui Meireles mandou-me há pouco uma carta onde diz: «É vergonhosa a campanha à presidência alicerçada na conversa do buraco financeiro». A conversa do buraco financeiro foi uma invenção sua para não ter concorrência nas eleições. «Ora, isto está mau e eu vou-me lá meter, é claro que não», foi isto que pensaram as pessoas que queriam concorrer. Se calhar, foi até isso que assustou Ernesto Ferreira da Silva. O Conselho Fiscal está tomado por si. Eu nunca tive influência no Conselho Fiscal, já o Sr. está lá metido todos os dias".

Ao ouvir isto, Soares Franco não se conteve e lançou mais uma "acha para a fogueira", acusando Dias da Cunha de ter "sacado ao clube, 45 milhões de euros", acrescentando ainda que "se a dívida do Sporting atinge hoje os 280 milhões de euros, muito se deve a si, que andou a roubar o clube".

Dias da Cunha afirmou que para explicar essa situação, precisaria de "mais do dobro do tempo que leva este debate. Mas se quiser explicações, terei todo o gosto em apresentá-las numa Assembleia Geral, se me derem tempo para falar".

Nas "alegações finais", Soares Franco prescindiu de falar, dizendo que "por mim está tudo explicado", enquanto Dias da Cunha afirmou que "o que me separa da actual direcção do Sporting é o conceito do que quero para o clube. O último serviço que posso prestar ao clube é assistir, impávido, a este caminho errado. Esta assembleia referendária é o caminho contrário. Como não se quer discussão, limitam-se a pedir que votem, e que aprovem. Não estão para dar explicações, e os sócios têm que ser esclarecidos. Mas, para isso, é preciso tempo. E tempo é coisa que o Sr. Soares Franco não quer «perder» explicando as coisas, pois acabaria por ser «descoberto»".

O debate que durou cerca de uma hora, foi marcado pelas fortes emoções, que cada um dos intervenientes pôs nas suas declarações.


Jornalista: João Miguel Pereira

Foto: A Bola

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